Acervo Hugo Reis

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Título

Acervo Hugo Reis

Assunto

Documentos, escritos e imagens do Poeta, Jornalista e Espirita Hugo de Borja Reis

Descrição

O ano era 2005. Apesar de relativamente próximo do ponto de vista temporal, nesse momento as redes sociais davam seus primeiros passos e estavam longe de ser populares e abrangentes como nos dias atuais.
Em meados dos anos 2000, encontrar alguém pela internet era algo que ainda exigia um considerável esforço e o neologismo “stalkear” sequer fazia parte do léxico corrente.
Lembro com clareza de um final de tarde – mais precisamente no dia 10 de março de 2005 – no qual cheguei em casa e abri minha caixa de e-mail para ver “a correspondência” do dia. Nesse momento me deparei com uma nova mensagem com o enigmático título “Hugo Reis, meu avô!”, que tinha como remetente uma total desconhecida chamada Ana Maria Tebar.
Confesso que minha primeira reação foi de apreensão. Como pesquisava o “Hugo” (o chamo assim, pois o historiador/pesquisador tende a criar uma certa intimidade com seus objetos de estudo) desde o início da década de 1990 e como já havia publicado – no impresso e no espaço digital – diversos textos em que ele aparecia como um jornalista com intensa militância em Ponta Grossa no início do século XX, temi que sua família (a partir do contato fortuito com um desses textos) quisesse confrontar ou questionar algo que eu, porventura, tivesse escrito sobre o jornalista carioca que se radicou em Ponta Grossa em 1908 e que participou ativamente da vida cultural e política da cidade durante os dezesseis anos que aqui residiu.
Como o que a vida espera da gente é coragem – conforme ensina Guimarães Rosa –, respirei fundo e abri a mensagem que dizia:

Caro professor Niltonci Batista Chaves
Sou neta de Hugo dos Reis (Hugo Mendes de Borja Reis), colaborador do Diário dos Campos na década de 20 e, pesquisando na Internet, encontrei um artigo seu no mesmo jornal, datado de 25 de Julho de 2004 - "Hugo dos Reis e o espiritismo em Ponta Grossa". Fiquei muito emocionada e impressionada com a riqueza de detalhes sobre a vida de meu avô nesta época da qual nós, da família, temos muito poucas referências.
Ele morreu aqui em São Paulo, jovem e bem antes do meu nascimento e os relatos sobre as atividades dele em Ponta Grossa vieram da memória de meu pai e de meus tios, mas sempre de forma fragmentária.
Guardo comigo fragmentos de escritos, a maior parte deles psicografados, de meu avô, incluindo o mais famoso, "A Túnica de Cristo", ainda no original do jornal em que foi publicada e do qual tirei cópias, para preservá-lo.
Tinha muitas referências sobre este lado espírita, sendo meu avô, segundo relatos familiares, também um medium espírita, com o dom da psicografia e da premonição de fatos que vieram a se confirmar.
Ele também tinha uma farmácia homeopática doméstica, com a qual atendia e medicava as pessoas que o procuravam.
Não tinha, porém, muitas referências a respeito de sua atividade de militância socialista, que seu artigo menciona e que para mim foram fatos novos. Contava meu pai que meu avô e a família tiveram que sair às pressas de Ponta Grossa, pois o jornal (não sei qual jornal) foi empastelado, por conta de uma causa política abraçada por ele e que desagradou os adversários. Será que isso procede?
Estou escrevendo ao senhor por conta da satisfação que tive em ler seu artigo, pelo qual muito agradeço e também para saber como foi que o senhor se interessou pela figura de Hugo dos Reis. Gostaria também de saber se existem outros relatos desta época, seus ou de outras pessoas.
Muito grata pela sua atenção,
Ana Maria Tebar
(meu nome de solteira é Ana Maria de Borja Reis e sou filha de Théo de Borja Reis (ou Théo dos Reis), filho mais velho de Hugo)

Lido o texto, respirei fundo novamente. Desta vez, a respiração veio carregada de um profundo sentimento de emoção e gratidão. Emoção por perceber que meus textos sobre o Hugo começavam a chegar a um público cada vez maior. Gratidão pela generosidade das palavras de Ana Tebar, a neta do Hugo que, a partir de então passou a travar um diálogo constante comigo por e-mail e, mais tarde, pelas redes sociais.
Foram muitas mensagens trocadas. Enviei para ela um pacote de livros (boa parte de minha autoria ou co-autoria) nos quais o nosso Hugo aparecia como personagem relevante. Mandei edições da série “Visões de Ponta Grossa”, exemplares do “Espaço e Cultura: Ponta Grossa e os Campos Gerais”, do clássico “Cinco Histórias Convergentes” (todos esses com o selo da Editora da UEPG) e do “A Cidade Civilizada: Discursos e Representações Sociais no Diário dos Campos – década de 1930” (Editora Aos Quatro Ventos).
Após Ana e outros integrantes da família realizarem as leituras, vieram novas resenhas virtuais. Os textos ajudaram a desvelar fatos sobre a história de vida e a personalidade do Hugo. Por outro lado, também recebi informações preciosas – como a possível vinculação do jornalista à Maçonaria e aos círculos políticos nos quais ele estava inserido em São Paulo – que muito me auxiliaram a continuar as pesquisas sobre ele em Ponta Grossa.
Mas a generosidade da família Borja Reis não parou por aí. A partir dos contatos iniciais e percebendo a importância do Hugo para o campo jornalístico e cultural ponta-grossense, Ana Tebar me confiou a doação de uma rica e, até então inédita, documentação: textos transcritos por Olga de Borja Reis, filha mais nova de Hugo, a partir de originais escritos pelo jornalista durante o tempo em que viveu em Ponta Grossa. Muitos dos escritos jamais foram publicados, mas expressam valores, perspectivas e filiações filosóficas e intelectuais do jornalista. Apontam também para a rede de intelectuais na qual, de certa forma, ele se inseria (por contato, alinhamento ou inspiração). Existem escritos dirigidos a Ruy Barbosa (uma das maiores referências políticas de Hugo), Sebastião Paraná, Lins de Vasconcelos, Dario Vellozo, Raul Gomes, Rocha Pombo, Emiliano Perneta, entre outros.
A documentação contém ainda diversos textos de orientação religiosa – Hugo foi o primeiro expoente do espiritismo em Ponta Grossa – e outros dirigidos aos trabalhadores – ele se autodefinia como um socialista humanitário e teve profunda participação no processo de organização dos trabalhadores ponta-grossenses no começo dos Novecentos; existem textos ficcionais (como uma peça teatral expondo o cotidiano da redação do Diário dos Campos), reproduções fotográficas e de documentos pessoais. Por fim, também faz parte desse conjunto documental, um exemplar original do Diário dos Campos com o poema “A Túnica de Cristo”, o mais conhecido texto espírita de Hugo.
Recebi a documentação em 2005, com a autorização da família para utilizá-la para fins de pesquisa. Deixei-a temporariamente acervada e à disposição de pesquisadores no Centro de Documentação e Pesquisa do Departamento de História da UEPG e, em 2018, ao assumir a direção do Museu Campos Gerais, levei-a para esse espaço. Nesse mesmo momento e compreendendo a relevância desse intelectual e mediador cultural, formalizei o pedido junto ao Conselho Universitário para que os acervos documentais do MCG passassem a se chamar Arquivos Históricos Hugo Reis.
Desde 2005, quando esse processo teve início, escrevi e orientei diversos trabalhos acadêmicos em que o Hugo aparece como personagem e objeto de investigação de historiadores que estudam Ponta Grossa e os Campos Gerais. Em 2019 apresentei o trabalho que me valeu a Livre Docência na UEPG – denominado “Percursos de um Historiador: História Local, Imprensa e Intelectuais (Hugo Reis 1908-1924)”, lançando luzes sobre essa documentação.
Agora, em 2021, passados 16 anos do contato inicial com Ana Tebar e outros membros da família, tenho a honra de contribuir com a disponibilização digital desse valioso conjunto documental por meio do Repositório Memórias Digitais. Compreendo que é a melhor forma de retribuir a sensibilidade da família Borja Reis e, ao mesmo tempo, valorizar a trajetória de Hugo Mendes de Borja Reis, um dos maiores nomes da história do jornalismo paranaense!

Texto de Niltonci Batista Chaves

Itens na Coleção Acervo Hugo Reis

A neta do jornalista Hugo Reis (1884-1934) registra depoimento em memória do avô, que atuou na imprensa em Ponta Grossa nas primeiras décadas do século XX. Reis foi um dos criadores do centro espírita na cidade. Documentos podem ser acessados no…

Barbas Louras
O texto "Barbas Louras" é orientado ao Domingos de Castro Lopes. Junto ao manuscrito original, acompanha copia digitada.

A Água
O texto A Água trata-se de reflexões de Hugo Reis refere a água. Junto ao manuscrito original, acompanha copia digitada.

1º de Maio
O texto 1º de maio se refere ao dia do trabalho. Junto ao manuscrito original, acompanha copia datilografada.

Programação festividades 143 anos de Ponta Grossa
Programação do 143º aniversário de Ponta Grossa

Convite aniversário de Ponta Grossa
Convite do Prefeito Plauto Miro Guimarães para as festividades comemorativas do 143º aniversário de Ponta Grossa

Título de Eleitor
Título eleitoral de Hugo dos Reis

Diário dos Campos - Edição Especial 'A Tunica de Cristo'
Esta edição do Diário dos Campos é composta por textos da literatura espirita escritos por Hugo dos Reis, dentre eles o texto 'A Tunica de Cristo'

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